sábado, 26 de novembro de 2016

Um mantra de Yeats.


Vocês, que me condenam quando
velhas canções vou recriando,
saibam que não é bem assim:
mais que as canções, recrio a mim.

(The friends that have it I do wrong
Whenever I remake a song,
Should know what issue is at stake:
It is myself that I remake
)


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O ESTORVO: uma tropicalização de Edgar Poe.


sábado, 1 de outubro de 2016


Não era amor. Se agora me perguntas
o sentido de toda esta jornada
em que permanecemos de mãos juntas,
cegos e nus, seguindo rumo a nada,

respondo-te: não era amor. Em cada
pedra, um veio de sangue; em cada espinho,
uma só carne; ao solo, uma pegada
só, do início ao fim deste caminho,

mas não amor. Éramos um, sozinho.


quarta-feira, 14 de setembro de 2016


o sol as palmeiras o bafo quente
o mormaço, sim;
mas a estranha janela sugere
luzes de natal.


sábado, 27 de agosto de 2016

Uma paráfrase de uma paráfrase de Ronsard.


Originalmente publicado aqui

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Recorte


As nuvens:
espumas flutuantes
pelas janelas.



423 a.C. / 1870 / 2012

sábado, 13 de agosto de 2016

Axioma


Nem sempre se pode
comprar toda a poesia
de Orides Fontela.


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Um soneto de Oscar Wilde.

(Sim, ele escrevia sonetos também.)

domingo, 26 de junho de 2016

O quadrado Sator


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Epitáfio a M...G...P...S...*



Lendo esse verso que seu livro encerra
Qual se encerrasse um rouco e áspero grito,
Ouço, poeta, o fenecer contrito
De um coração que bate sob a terra.

Acabou-se o licor, é finda a guerra,
E ora a garrafa, como o verso escrito,
Parece, sob a luz de um astro que erra,
Engarrafar um pouco do infinito.

Desceu-lhe o Ocaso como aurora fosse:
Do esgar dos homens rudes protegida
E alheia à compaixão dos homens falsos,

Pode sonhar, enfim, Ela, que trouxe
Num copo de aguardente o elã da vida
E o remorso de Deus nos pés descalços.



06 / 2016
__________
*Maria Gabriela Pereira dos Santos (1923-1996) viveu em Itajubá, no sul de Minas Gerais. Seu único livro, "Versos dentro da noite", composto em sua maioria por sonetos forjados como poucos conterrâneos o souberam e o saberiam fazer, segue se perdendo pelos sebos da cidade. Após lê-lo, senti-me na obrigação de pagar a experiência com um igualmente soneto, e daí o Epitáfio. 

(...) 
Não chores, Mãe querida, se eu morrer
do vício inconformável de beber, 
da consequência infame da bebida...

— Saibas, porém, que em muita noite fria,
de remorsos chorei esta agonia:
de ter em tua vida, a minha vida... 

(...) 
Estou pronta, Senhor! Passou meu pesadêlo!...
Tenho as mãos a vagar, nas ondas do cabelo,
Como que a sustentar meu cérebro doente...

... Se esta vida e esta cruz a que me condenaste
não puderam conter-te a ira sôbre um traste,
ampara-me, no fim, para eu morrer contente... 

domingo, 8 de maio de 2016

"O Albatroz", de Charles Baudelaire.


Não é de agora minha vontade de traduzir esse poema, que é um de meus preferidos do autor e também de um modo geral. Contudo, nunca me atrevi a tocá-lo sem saber o mínimo do francês para compreender o original sem recorrer a outras traduções. Agora, que posso dizer que os estudos têm dado algum efeito (tanto para a língua francesa quanto para a tradução poética), tentei minha própria versão. Mas, como de costume, façamos algumas considerações primeiro. 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016


Poema, 
essa jukebox feita 
de papel e sangue.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Litania



Ó vós, ovelhas vis, a quem todo o Evangelho
Resume-se ao regime autoritário e estulto,
Ao edito insensato e frio de um deus velho:

Há mais de Deus em não prestar-se culto!
Há mais da Sacra História em fogo e prélio!


Ó vós, ovelhas más, a quem o Ideal Caminho
Paga-se em falso pejo e ofertas de pão ázimo,
E a Glória em flagelar-se e em padecer sozinho:

Há mais de Deus na extrema-unção do orgasmo!
Há mais da Sacra História num bom vinho!


Ó vós, ovelhas de um rebanho a quem é dado
O tino de apartar o fruto que vos tente
Do azeite e do maná de Cristo Imaculado:

Há mais de Deus na astúcia da Serpente!
Há mais da Sacra História no Pecado!




01 / 2016