terça-feira, 7 de julho de 2015

"Versos inscritos numa taça feita de crânio humano", de Byron.


Antes, devo mencionar outras traduções ao português dignas de nota: a clássica de Castro Alves, a de Adriano Scandolara, ambas publicadas no escamandro, e a de Ivan Justen Santana. Vale a pena conferi-las e contemplar o trabalho dos autores.
Agora, à minha humilde tentativa.


06/03/16: Soube de uma excelente compilação de todas as traduções desse poema ao português, realizada por ninguém menos que o Matheus Mavericco, nome que já pululou neste recanto outras vezes e certamente tornará a aparecer. 

***

LINES INSCRIBED UPON A CUP FORMED FROM A SKULL


Start not – nor deem my spirit fled:
In me behold the only skull
From which, unlike a living head,
Whatever flows is never dull.

I lived, I loved, I quaffed like thee;
I died: let earth my bones resign:
Fill up – thou canst not injure me;
The worm hath fouler lips than thine.

Better to hold the sparkling grape
Than nurse the earthworm’s slimy brood,
And circle in the goblet’s shape
The drink of gods than reptile’s food.

Where once my wit, perchance, hath shone,
In aid of others’ let me shine;
And when, alas! our brains are gone,
What nobler substitute than wine?

Quaff while thou canst; another race,
When thou and thine like me are sped,
May rescue thee from earth’s embrace,
And rhyme and revel with the dead.

Why not – since through life’s little day
Our heads such sad effects produce?
Redeemed from worms and wasting clay,
This chance is theirs to be of use.



VERSOS INSCRITOS NUMA TAÇA FEITA DE CRÂNIO HUMANO


Não temas – de alma não me privo:
Meu crânio é o único que existe
Onde, contrário a um rosto vivo,
O quanto flui jamais é triste.

Vivi, amei, bebi qual tu;
Morri: que a terra não me queira:
Bebe! Não causas dano algum;
Do verme a boca é mais traiçoeira.

Antes conter da vinha o lume
Do que nutrir do verme a raça,
E não do réptil, mas do nume
Servir o néctar como taça.

Onde talvez brilhou-me o siso,
Por bem dos outros vá brilhar;
E, estando o cérebro diviso,
Entorne o vinho em seu lugar!

Bebe; aproveita enquanto podes,
Pois quando, assim como eu, morreres,
Serás violado, e orgias e odes
Hás de fazer com outros seres.

E por que não – se é curta a vida
E na cabeça o mal repousa?
Estar dos vermes redimida
Pode servir de alguma cousa.



07 / 2015