terça-feira, 28 de abril de 2015

Cinco poemas de William Blake.



Um de For the Sexes: The Gates of Paradise, dois de Songs of Innocence e outros dois dos manuscritos do poeta.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Ars Poetica

("The Corner of the Table" - Henri Fantin-Latour)


Vede, escrever sonetos não é difícil:
Lançai-vos mão de olhar atento, e basta.
O metro vos assusta? É arte gasta,
Menor dos males neste ousado ofício,

Pois tanto o artista a mesma pedra engasta
Que se acostuma; e, como nem mais visse o
Projeto, erige o décimo edifício
Dos cem que hospeda no interior da pasta.

Falai de amores, dores e de musas,
Do quanto a morte é bela, e a vida, inglória;
Palavras? Escolhei as mais confusas;

A rima? Seja rara; o fecho? Escore-a;
E eis o soneto: as pompas vêm inclusas!

Mas, vede, poesia é outra história.



03 / 2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

"Pássaro Azul", de Bukowski.


Charles Bukowski dispensa apresentações: todo e qualquer jovenzinho descolado que se preze já leu pelo menos um poema de sua lavra e se fascinou com os palavrões, as putas e o alto teor alcoólico naqueles versos.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Biographia Literaria


Conto dezenove
com cara de trinta.
Dois anos na estrada.

No bolso direito, carteira vazia;
no esquerdo, um pedaço de alma
surrado, mofado
que levo de mimo.

Nos olhos,
o chão que enraízo
nas lentes,
o céu que desprezo
entre eles,
o beco onde residem as ideias brutas.


Trago o melhor da Poesia Crássica
Ultrarromanca
feito um monge cuja mão, trêmula da idade,
não acompanha o pensamento
e se deixa levar por intempéries do desejo.


Alguém leu meus versinhos de angústia
e julgou por bem dizer: "esse é poeta!"
(mas se soubessem dos sorrisos que escondo atrás das dores,
certamente não me chamariam poeta.)



04 / 2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

Testamento

(detalhe de "Up in The Studio" - Andrew Wyeth)

Quando eu vier a morrer
(e pode ser qualquer dia),
não quero horror no processo,
quero tampouco alegria;

não quero a vida passando
por meus olhos como um filme;
que ali meu drama se encerre,
e a trama guarde quem viu-me

quando o meu riso era fácil,
quando o meu choro, contente;
fiquem com a parte da história
em que o poeta ainda sente.

Quando eu vier a morrer
(e pode ser amanhã),
quero ouvir o silêncio
sobreposto à prece vã;

e, vindo a dor, que eu padeça,
não chore a perda, no entanto:
se a vida não vale a pena,
a morte não vale o pranto.

Quando eu vier a morrer
(pode ser hoje, quem sabe),
que o mundo aprenda comigo
e se conforme, e se acabe;

que eu sinta o sopro da noite,
que eu sinta a brisa da aurora
uma vez mais, com desdém,
para - impassivo - ir embora.

Querem saber? Morro agora
e disso não me arrependo;
se perguntarem por mim,
digam que morri vivendo.



04 / 2015

Descrença

("Christ on the Cross" - Peter Paul Rubens)


O pecador, defronte à imagem sacra
do Cristo redentor, defronte à Virgem,
fitando o chão (que o céu lhe dá vertigem),
desanda o choro em voz penosa e fraca.

Diz ele: "Ó céus, bem sei como hei pecado,
como estas mãos pusera em mau caminho;
perdoai-me, ó Pai; e, ó Mãe, pousai em mim
o vosso pio olhar! Eis o meu fado:

fazei o que quiserdes dele!" E erguidos
os braços numa cruz imaginária,
procura as mãos de Deus, procura ouvir
do santo a doce voz — mas vê o altar,

e a sacra imagem crava-lhe uma densa
feição de angústia e de total descrença.




04 / 2015